Enquanto o Universo Cinematográfico da Marvel estava funcionando muito bem no início da segunda década dos anos 2000, tendo lançado com sucesso franquias de super-heróis individuais, sequências e filmes sem precedentes dos Vingadores, ainda havia pelo menos uma propriedade importante que a Marvel não tinha em sua lista: Homem-Aranha.
Por anos, os fãs clamaram para ver o que a Marvel Studios poderia fazer com o famoso Amigão da Vizinhança em seu universo, mas os direitos do personagem estavam sob licença da Sony Pictures. O estúdio rival ajudou a dar início a esta era de filmes de super-heróis com o filme Homem-Aranha de Sam Raimi, de 2002, e eles não estavam dispostos a abrir mão de sua joia da coroa, apesar da queda nas bilheterias.
Então aconteceu o sem precedentes. Em vez de devolver o Homem-Aranha, a Sony concordou com um acordo inovador com a Marvel Studios, que beneficiou ambos de maneiras muito diferentes. Esta é a história de como o "Homem-Aranha: De Volta ao Lar" nasceu.
Embora os fãs estivessem super ansiosos para ver o Homem-Aranha no MCU desde o lançamento de "Os Vingadores" em 2012, o pensamento geral sobre o assunto era que isso nunca aconteceria. Os quadrinhos e o personagem do Homem-Aranha eram as únicas propriedades de super-heróis que a Sony tinha, e não havia como o estúdio desistir disso no meio de uma febre de filmes do gênero. A maioria presumia que a Sony simplesmente continuaria reiniciando, reformulando e relançando os filmes do Cabeça de Teia para sempre.
Mas sem o conhecimento do público, a Marvel Studios - e em particular o presidente da empresa Kevin Feige - estava ansioso em ter o Homem-Aranha de volta e começou a fazer conversas privadas com a Sony em 2014 após o lançamento de "The Amazing Spider-Man 2". A sequência protagonizada por Andrew Garfield teve um bom desempenho nas bilheterias, mas recebeu críticas contundentes e pesadas dos fãs. Após a receptividade negativa em relação ao filme da Sony, Feige e Ike Perlmutter (CEO da Marvel Entertainment) agiram.
A ideia era esta: deixe a Marvel Studios ajudar a no reboot do Homem-Aranha e usar o personagem em seu próximo filme da MCU, "Capitão América: Guerra Civil". Amy Pascal, chefe da Sony Pictures, estava hesitante, apesar das inúmeras reuniões com chefão da Marvel Studio. E para complicar as coisas, Perlmutter reforçava a opinão que qualquer acordo entre a Marvel e a Sony deveria beneficiar a Marvel, ao ponto de a Marvel conseguir uma participação de 50% próximo filme solo do personagem, enquanto a Sony teria apenas 5% de participação no longa do Capitão América. Com base nesta proposta, a Sony recusou.
Jon Watts, Tom Holland, Amy Pascal e Kevin Feige |
No outono de 2014, um acordo entre as duas empresas ainda não havia sido fechado. E a Marvel estava sob a pressão porque a produção da Guerra Civil estava se preparando. Internamente, a Sony estava considerando reiniciar o Homem-Aranha em um filme Sexteto Sinistro escrito e dirigido por Drew Goddard. Porém, quando Goddard entregou seu primeiro rascunho do roteiro, a Sony foi hackeada, liberando uma grande quantidade de e-mails privados para o mundo. Foi neste momento que o público ficou sabendo que a Sony e a Marvel haviam discutido trazer o Homem-Aranha para o MCU. Agora, com as costas contra a parede devido a pressão dos fãs, Pascal voltou a falar com Kevin Feige sobre toda a ideia de co-produção.
Em 9 de fevereiro de 2015, um acordo inovador foi anunciado. Um novo Homem-Aranha seria lançado em 2016 em "Capitão América: Guerra Civil", lançado pela Disney. E esse mesmo personagem estrelaria um novo filme independente lançado pela Sony em 2017, produzido pela Marvel Studios.
O acordo financeiro alcançado era muito menos complicado do que a oferta inicial da Casa de Ideias: cada estúdio investiria totalmente e manteria a maior parte dos lucros de seus respectivos projetos. E a taxa anual que a Marvel paga à Sony para manter os lucros do brinquedo e do merchandising para o personagem do Homem-Aranha na Marvel seria reduzida a 35 milhões de dólares se o novo filme do Homem-Aranha produzido pela Marvel arrecadasse mais de 750 milhões de dólares. O que de fato ocorreu.
Imediatamente o trabalho começou para escalar este novo Cabeça de Teia para que ele pudesse filmar suas cenas em Guerra Civil. De acordo com o acordo Sony-Marvel, a Sony manteve a aprovação final sobre o elenco, mas trabalharia em conjunto com o estudio da Disney para encontrar o ator certo.
Ambos os lados concordaram que queriam escalar um Peter Parker muito mais jovem desta vez (o MCU já estava cheio de heróis de trinta e quarenta e poucos anos), então eles estavam procurando por um ator de 15 ou 16 anos de idade.
A lista de seleção do elenco se tornou pública em abril de 2015, após o início das gravações de Guerra Civil. A Marvel e a Sony consideraram atores como Nat Wolff, Asa Butterfield, Timothee Chalamet, Liam James e, claro, Tom Holland para o papel de Peter Parker. Em maio, ambos estúdios estavam testando atores contracenando com Robert Downey Jr. e Chris Evans. Em 23 de junho, Holland foi escalado como o novo Cabeça de Teia e poucos dias depois estava no set do longa do Capitão América filmando suas cenas.
Ao mesmo tempo a Sony e a Marvel estavam procurando uma nova equipe criativa para liderar o filme solo do Homem-Aranha, programado para chegar aos cinemas um ano após a Guerra Civil. Em maio de 2015, foi relatado que os cineastas considerados para dirigir o projeto incluíam Jonathan Levine, Ted Melfi, Jason Moore e Jared Hess. Claramente, os estúdios estavam procurando por um cineasta com sensibilidade jovem, possivelmente inclinado para a comédia, já que a Marvel idealmente queria capturar um tom dos filmes de John Hughes no longa inicial do personagem no MCU.
Um mês depois, a busca pela direção continuou com Levine e Melfi na dianteira. Foi neste momento que um novo nome surgiu: Jon Watts. Ele logo se tornou o favorito de Feige e em 23 de junho foi confirmado como o diretor de "Homem-Aranha: De Volta ao Lar" (2017).
Em julho, Daley e Goldstein - que anteriormente concorriam para dirigir - foram contratados para escrever o roteiro do novo filme. O projeto continuou a se desenvolver e Robert Downey Jr. foi adicionado ao conjunto em um papel de mentor para Peter Parker.
Quanto à escolha do vilão do filme, o produtor Eric Caroll revelou que quase todo diretor que apareceu e apresentou uma ideia do filme tinha o Abutre como grande ameaça. Por isso, a escolha foi natural para a Marvel e Sony. Michael Keaton foi o nome natural para o papel.
As filmagens começaram em junho de 2016 e chegou o longa aos cinemas em 7 de julho de 2017 para aclamação da crítica e 117 milhões de dólares em seu fim de semana de estreia. Tornando-se a maior estreia para um filme do Homem-Aranha desde 2007. Num total de bilheteria mundial de 880 milhões de dólares, o filme recebeu a aclamação geral de crítica e público.
Em retrospectiva, ainda é incrível acreditar que dois estúdios rivais se uniram, sem nenhuma troca significativa de dinheiro, para compartilhar um único personagem que beneficiava ambos os lados. A Marvel ainda teve a satisfação de supervisionar as decisões criativas tomadas na montagem do filme e, posteriormente, cruzar o Peter Parker de Tom Holland em outros vários filmes MCU. Vamos combinar que isso reforça nossa percepção da paixão da Feige por esses personagens.
E essa história não termina por aqui, já que a produtora Amy Pascal confirmou em uma entrevista ao Fandango que após o estrodonso sucesso de "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" (2021), Holland retornará para uma futura trilogia de filmes do Amigão da Vizinhança. E que as tramas continuarão a ser ambientadas no MCU.
Uhuuuuuu! Vida longa ao Homem-Aranha no MCU!
Fontes: Collider, The Verge, Fandango
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Homem-Aranha: como funciona o acordo entre a Marvel Studios e Sony?
Reviewed by Daniel Rost Dreyer
on
dezembro 26, 2021
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