Já parou pra pensar que o Matt Murdock, advogado de dia e justiceiro de noite, é um homem católico, que se veste de diabo? Parece contraditório, né? É o tipo de pergunta que rende teoria elaborada em fórum de fãs. Mas a verdade é bem mais simples do que parece.
O diabo mora nos detalhes… do nome
Antes de se tornar o justiceiro que conhecemos, Matt era só um garoto cego sofrendo bullying no bairro irlandês de Hell’s Kitchen. Por ser quieto, aguentar calado e não revidar, os outros garotos o apelidaram sarcasticamente de Daredevil — algo como “valentão” ou “audacioso”, usado aqui com aquela ironia cruel de pátio de escola.
Acontece que Matt cresceu. E em vez de rejeitar o apelido, ele o abraçou. Tornou-se o próprio “Homem Sem Medo”. Como um aceno ao passado e um tapa na cara de quem duvidou dele. O nome ficou. Mas e o traje?
A resposta é quase cômica: já que Daredevil tem “devil” no nome, a Marvel achou que faria sentido brincar com isso visualmente. Daí os chifres na máscara. Simples assim. A cor vermelha? Veio depois. O primeiro uniforme era amarelo. A mudança foi mais estética do que simbólica. Nada a ver com o inferno, o pecado ou o apocalipse.
Mas… e o catolicismo?
Engraçado pensar que, durante muito tempo, o Matt não era oficialmente católico nas HQs. Foi só quando Frank Miller assumiu o personagem nos anos 80 que isso começou a mudar. Aos poucos, elementos como igrejas, culpa e redenção começaram a aparecer.
O ápice dessa transformação veio com a obra-prima “Born Again” (A Queda de Murdock). Ali, a desconstrução do herói — física, mental e espiritual — o leva ao fundo do poço, deitado em posição fetal, até literalmente “renascer”. Tudo isso embalado em uma narrativa dividida em sete edições com 14 páginas chave, um número nada aleatório: afinal, são 14 as estações da Via Sacra no catolicismo.
As edições têm nomes como “Apocalipse”, “Purgatório”, “Renascido” e “Salvo” — referências claras ao universo religioso. Mas tudo isso ainda era mais simbólico do que canônico.
Do inferno à missa
Foi só em 1998, na minissérie Diabo da Guarda, que ficou claro de vez: Matt Murdock é católico. Desde então, o tema foi e voltou nas HQs, às vezes com força, outras vezes ignorado. Mas aí chegou a série da Netflix. Nela, Matt virou praticamente o santo padroeiro da penitência. A abordagem da fé na série foi tão intensa que os quadrinhos passaram a reforçar esse lado do personagem.
Chegamos ao ponto de, recentemente, Matt virar padre nos quadrinhos. Sim. Aquele mesmo que se veste de demônio agora prega a palavra de Deus. A vida é cheia de ironias, não é?
O paradoxo é parte do charme
No fim das contas, o traje do Demolidor não nasceu de uma crise existencial, nem de um dogma religioso. Mas a beleza da cultura geek é justamente essa: o que começou como uma coincidência virou símbolo. Uma identidade. Um conflito eterno entre o certo e o errado, o pecado e a redenção, o medo e a coragem.
E você? Acha que o traje do Demolidor deveria mudar, agora que o personagem abraçou (mais) a fé? Ou esse paradoxo entre imagem e essência é exatamente o que torna ele tão único?
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Por que o Demolidor, um herói católico, se veste de diabo?
Reviewed by Daniel Rost Dreyer
on
abril 22, 2025
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